Pesquisar este blog

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Atividade para 1° Ano Integral - Pof. João


Faça a leitura e reflexão do texto abaixo.



Todo o mundo, incluindo os países onde a espiral da contaminação ainda cresce, como o Brasil, ainda sofrerá os efeitos da pandemia do coronavírus por longo tempo. Países como a China e a Itália, porém, que levaram a sério o lockdown e já começam a trabalhar para a volta à vida depois do terror, começam a encarar a realidade deixada pela pandemia.
Como será o mundo depois do vírus? Para muitos, pensar no futuro hoje é um exercício de futurologia barata. Porém, já se pode tirar algumas conclusões a respeito do que mudou e vai ficar.
A primeira delas é que a grande onda do liberalismo exacerbado, que cresceu  a partir dos anos 1980, sofreu um golpe definitivo, bem maior que o da crise de 2008.
Mesmo os conservadores dos Estados Unidos, que tanto combateram o projeto de um sistema público de saúde cuja instituição Barack Obama tentou implantar, terão de rever o papel do Estado e suas políticas públicas.
A cena dos caminhões recolhendo corpos em Nova York, de gente que morreu sem sequer poder ir ao hospital, não apenas é um macabro retrato do drama na metrópole mais cosmopolita do mundo, como fala sobre todo um sistema de vida.
Tanto para os mais pobres quanto os mais ricos, uma crise como a do covid torna-se um salve-se quem puder de consequências trágicas, numa sociedade onde cada um tem de se virar sozinho.
Isso não significa exatamente um estadismo maior, com aumento de impostos e imposição de sistemas públicos unificados de saúde, algo em que até o Brasil é melhor que os Estados Unidos.
Significa que os governos liberais terão de encontrar um equilíbrio maior entre as virtudes da liberdade e programas públicos que visam atender a população de forma mais igualitária, especialmente saúde e educação.
Não se trata de esquerdismo ou comunismo, pelo contrário. Trata-se de oferecer igualdade de oportunidades, uma das tarefas fundamentais e inerentes ao regime democrático. Por trás dessa igualdade, está o princípio humanista de que a vida de todos tem o mesmo valor.
Depois de 2008, os Estados Unidos passaram a investir dinheiro público no desenvolvimento de um sistema de saúde melhor, assim como na recuperação da economia, com forte ajuda pública ao setor privado. A dívida americana cresceu. Foi ela que deu impulso à recuperação econômica e não os gênios do capitalismo americano.
Países europeus, com a receita ponderada entre o público e o privado, embora tenham seus próprios problemas, como a absorção dos imigrantes, possuem um equilíbrio maior. Esse equilíbrio deve permitir que saiam da crise em condições de uma recuperação mais rápida.
Países como Brasil vão pagar o preço por não terem aproveitado o longo período de prosperidade para se colocarem numa posição melhor. Assim como o vírus mata mais fácil os mais fracos, a catástrofe econômica vai pegar mais duro quem tinha menos condições de enfrentá-la. É uma boa lição para o futuro. Não se pode esperar a catástrofe para fazer o que tem de ser feito.
Outra conclusão que se pode tirar da pandemia é que o mundo, que se tornou aberto e globalizado como nunca, pela criação de um mercado virtualmente franqueado e grande trânsito internacional, se tornará mais fechado. Países deverão voltar a investir na produção doméstica, no lugar do grande mercado globalizante, que derrubou preços e também o emprego.
Nesse cenário, o grande perdedor deve ser a China. Maior beneficiário da abertura dos portos, ela deve enfrentar o fechamento dos outros países por uma onda que não dispensará a intolerância, algo que já se faz sentir contra os chineses. A intolerância é o mecanismo que, sobretudo quando não há regra de direito para isto, impõe o afastamento dentro da sociedade, fazendo o papel de afastar o indesejável.
Esse deve ser o tom do futuro: pessoas mais desconfiadas da convivência; o crescimento dos mercados protecionistas nacionais e mais barreiras à globalização.
Por outro lado, o mundo também já percebeu a necessidade de aperfeiçoar os organismos de coordenação de problemas globais. Desde a saúde, agora emergencial, até o meio ambiente e as relações comerciais globais.
Nelas, também se pedirá um equilíbrio maior. Assim como um vírus capaz de rodar o mundo, deve haver também um círculo maior de solidariedade, e uma pressão por políticas que reduzam os efeitos negativos do liberalismo selvagem em escala planetária. Em especial o crescimento da miséria, a concentração de renda e a extinção do emprego.
Essa é grande mudança que o Covid nos traz. Apesar das diferenças e da defesa de interesses, paira a conclusão de que, ao fim e ao cabo, todos são responsáveis por todos.
Quando países em todo o mundo deixam de lado a preocupação com o próprio bolso para salvar vidas, mandando as pessoas saírem do trabalho para se proteger em casa, coloca a vida humana novamente como o valor supremo.
A grande mensagem deixada pelo esforço contra o coronavírus, que se espalhou por todo o planeta, é de que de nada vale a riqueza, sem a Humanidade.

THALES GUARACY
13.abr.2020 (segunda-feira) - 05:50

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Série: 1ª A integral / vespertino

Visão fragmentada X Visão sistêmica. Uma análise.

Luiz Antônio Gaulia é Colunista de Plurale (*)

Numa conversa com um engenheiro de uma fábrica de bombas, mísseis e explosivos foi perguntado se o sujeito tinha algum tipo de culpa pelo que produzia. A resposta veio com um tiro de fuzil: “Não tenho culpa de nada. Aqui eu só faço a colocação do detonador. Nem sei quanto de explosivo existe nesse artefato. Também não sou eu quem jogará essa bomba em cima dos outros”.

O exemplo acima ilustra bem o que significa ter uma visão fragmentada do mundo e da vida. Diferentemente de uma visão sistêmica – que considera o conjunto, o todo e a teia de conexões e interdependências de qualquer atividade humana. E que é fundamental para a sobrevivência atual de nossa espécie na terra.

Mas de onde surge essa visão estanque? Acredito que vivemos sob a influência de dois modelos de pensamento que não somente nos trouxeram o crescimento industrial e a fartura de produtos como automóveis, geladeiras, computadores e ogivas nucleares. Mas que também trouxeram, por conseqüência, os engarrafamentos, a queima de combustível fóssil e a poluição do ar, o desperdício de energia, a guerra moderna e seu poderio militar destrutivo como nunca se viu na história humana.

Falo sobre o pensamento de Descartes e de Newton. Pensadores geniais que transformaram o mundo pela força de suas idéias. Mas que estavam apenas parcialmente certos. Explico: quando se determina que a verdade é tudo aquilo que a razão pode explicar, privilegia-se o mental, racional, matemático e deixa-se de lado outras visões da verdade como os costumes, a cultura, a emoção, a espiritualidade (não de uma religião, mas de uma crença maior nos mistérios da vida). Ou seja, produz-se um modelo onde só a razão e a mente valem.

Ou seja, ao explicarmos a vida e o universo a partir de uma visão mecanicista, onde o mundo funcionaria como um grande relógio, passamos a perceber a dinâmica da vida como um conjunto de peças dentro de ritmos determinados pelo tempo e pelo movimento. Peças perfeitamente controláveis. Um modelo mental que acabou classificando homens e mulheres como “recursos” e dessa forma plenamente substituíveis ou trocáveis, assim como peças de uma máquina – muito bem retratada na genialidade de Charles Chaplin no filme “Tempos Modernos”.

E mais ainda. Um modelo que deixou de perceber que a industrialização e o crescimento contínuo de negócios não consideravam há até poucos anos, os impactos desse crescimento sobre ecossistemas variados. Uma visão – fragmentada – que deixava a natureza do lado de fora das fábricas, desconsiderando o valor do que podemos chamar hoje de capital natural. E pior: na sua prepotência em traçar metas e objetivos, acreditou que através de um controle feito pelas planilhas matemáticas poderia comandar e controlar tudo. Inclusive a vida.

Ora, quem consegue controlar a vida? Ainda não existem respostas para isso. Assim, tanto Newton quanto Descartes descobriram uma apenas uma parte da verdade do mundo. E hoje, precisamos acrescentar, incluir, considerar, perceber outras dimensões desse gigantesco mistério chamado vida. Nosso futuro depende dessa visão sistêmica.

A partir disso, desta visão holística, do todo que nos une e nos insere numa teia universal, poderemos entender que nossos atos, dos mais simples aos mais complexos podem afetar nossos rumos, podem afetar nosso futuro. É um desafio muito grande começar a mergulhar nessas dimensões. Mas a tal sustentabilidade, palavra da moda, precisa exatamente disso: de uma visão mais abrangente – que vai gerar alguma reflexão e muito aprendizado. Por tabela (Ops, olha o racional aí!), novos processos, novos jeitos de fazer, de organizar. Vai gerar inovação. Mudança.

E vai fazer também que aquele engenheiro lá na fábrica de bombas não tenha a desculpa perfeita de dizer que ele só é responsável por uma pequena parte do trabalho. Que não faz mal a ninguém na sua rotina de instalação de pequenos detonares dentro de pequenos ou grandes mísseis. Aliás, quem sabe num futuro não tenhamos mais este tipo de negócio? Indústria de armas, complexos militares.

Afinal, numa visão maior vamos nos descobrir não sujeitos desconhecidos, estrangeiros ou intrusos, mas membros de uma só família que habita o mesmo endereço residencial: a Terra.

Faz sentido para vocês?

(*) Luis Antônio Gaulia é Colunista de Plurale, colaborando com um artigo por mês. É especialista em Comunicação Empresarial e Comunicação para a Sustentabilidade. Atualmente é consultor da Rebouças&Associados trabalhando com Comunicação para Transformação. Leia outros artigos. Acesse BLOG DO GAULIA – http://gaulia.blogspot.com)

Socialização por fragmentos

No primeiro capítulo de seu livro Visões da tradição sociológica, o sociólogo estadunidense Donald Levine discute uma das características do nosso tempo: a visão fragmentária do mundo. Seu texto inspira uma reflexão sobre o processo de socialização tal como ocorre hoje .



Cada vez mais, a socialização acontece em pequenos fragmentos. A televisão despeja imagens e as pessoas “zapeiam” de canal em canal. A leitura de livros é substituída pela de resumos ou de resenhas publicadas nos periódicos, quando não apenas por frases e parágrafos soltos destacados em revistas semanais. Os computadores apresentam as notícias e informações como se fossem todas iguais e tivessem a mesma importância. Os pais entregam os filhos para as escolas e acredi­ tam que com isso os estão educando. Os estudantes demonstram uma capacidade reduzida para argumentar com fundamento e quase não têm uma visão histórica ou processual do que está acontecendo, pois, como nos diz Eric Hobsbawm, para eles até a Guerra do Vietnã é pré-histórica, o que evidencia não apenas ignorância do passado, mas também falta de um senso de relação his­ tórica. Os mais velhos são considerados improdutivos e ultrapassados, um peso para os familiares, como se não pudessem mais dizer ou ensinar algo aos mais novos. O que importa é o momento e o novo que aparece a todo instante.

1. É possível um processo de socialização que não leve em conta a experiência acumulada? Explique.


2. As mudanças atualmente são tão radicais que o que foi escrito e pensado pelos que nos antecederam pouco servem hoje?


3. Como você interpreta a fragmentação a que se refere o texto? O quadro pintado no texto está muito carregado de tintas escuras e de pessimismo, ou a realidade é essa mesmo? 

domingo, 10 de maio de 2020

2º ano A Integral





Atividade 2°B Integral,3°A e 3°B Integral (prof. Amaral)




Estimad@s estudantes, solicito que vocês façam a leitura do texto e , além de uma reflexão sobre, anotem no caderno os pontos que vocês acharem importantes. 






A terra se defende
Leonardo Boff

A Terra é Redonda, 24.3.2020
O planeta não só possui vida sobre ele. Ele próprio é vivo. Emerge como um Ente vivo, como um sistema que regula os elementos físico-químicos e ecológicos. Chamaram-no de Gaia.
A pandemia do coronavírus nos revela que o modo como habitamos a Casa Comum é nocivo à sua natureza. A lição que nos transmite soa: é imperioso reformatar a nossa forma de viver sobre ela, enquanto planeta vivo. Ela nos está alertando que assim como estamos nos comportando não podemos continuar. Caso contrário a própria Terra irá se livrar de nós, seres excessivamente agressivos e maléficos ao sistema-vida.
Nesse momento, face ao fato de estarmos no meio da primeira guerra global, é importante conscientizar nossa relação para com ela e a responsabilidade que temos pelo destino comum 
Terra viva-Humanidade.
Acompanhem-me neste raciocínio: o universo existe já há 13,7 bilhões de anos desde quando 
ocorreu o big bang. A Terra há 4,4 bilhões. A vida há 3,8 bilhões. O ser humano há 7-8 milhões. Nós, o homo sapiens/demens atual há 100 mil anos. Todos formados com os mesmos elementos físico-químicos (cerca de 100) que se forjaram, como numa fornalha, no interior das grandes estrelas vermelhas, por 2-3 bilhões de anos (portanto há 10-12 bilhões de anos): o universo, a Terra e nós mesmos.
A vida, provavelmente, começou a partir de uma bactéria originária, mãe de todos os viventes. Acompanhou-a um número inimaginável de micro-organismos. Diz-nos Edward O. Wilson, talvez o maior biólogo vivo: só num grama de terra vivem cerca de 10 bilhões de bactérias de até seis mil espécies diferentes (A criação: como salvar a vida na Terra, Companhia das Letras, p. 26). Imaginemos a quantidade incontável desses micro-organismos, em toda a Terra, sendo que somente 5% da vida é visível e 95%, invisível: o reino das bactérias, fungos e vírus.
Acompanhem-me ainda o raciocínio: hoje é tido como um dado científico, depois de 2002, quando James Lovelock e sua equipe demonstraram perante uma comunidade científica de milhares de cientistas na Holanda, que a Terra não só possui vida sobre ela. Ela mesma é viva. Emerge como um Ente vivo, não como um animal, senão como um sistema que regula os elementos físico-químicos e ecológicos, como fazem os demais organismos vivos, de tal forma que se mantém vivo e continua a produzir uma miríade de formas de vida. Chamaram-na de Gaia.
Outro dado que muda nossa percepção da realidade. Na perspectiva dos astronautas seja da 
Lua seja das naves espaciais, assim testemunharam muitos deles, não vigora uma distinção entre Terra e Humanidade. Ambos formam uma única e complexa entidade. Conseguiu-se fazer uma foto da Terra, antes de ela penetrar no espaço sideral, fora do sistema solar: aí ela aparece, no dizer do cosmólogo Carl Sagan, apenas como “um pálido ponto azul”. Pois, nós estamos dentro deste pálido ponto azul, como aquela porção da Terra que num momento de alta complexidade, começou a sentir, a pensar, a amar e a perceber-se parte de um Todo maior. Portanto, nós, homens e mulheres, somos Terra, que se deriva de húmus (terra fértil), ou do Adam bíblico (terra arável).
Ocorre que nós, esquecendo que somos uma porção da própria Terra, começamos a saquear 
suas riquezas no solo, no subsolo, no ar, no mar e em todas as partes. Buscava-se realizar um projeto ousado de acumular o mais possível bens materiais para o desfrute humano, na verdade, para a sub porção poderosa e já rica da humanidade. Em função desse propósito se criou a ciência e a técnica.
Atacando a Terra, atacamos a nós mesmos que somos Terra pensante. Levou-se tão longe a cobiça deste grupo pequeno voraz, que ela atualmente se sente exaurida a ponto de terem sido tocados seus limites intransponíveis. É o que chamamos tecnicamente de “Sobrecarga daTerra” (the Earth overshoot). Tiramos mais do que ela pode dar. Agora não consegue repor o que lhe subtraímos. Então dá sinais de que adoeceu, perdeu seu equilíbrio dinâmico, aquecendo-se de forma crescente, formando tufões e terremotos, nevascas nunca dantes vistas, estiagens prolongadas e inundações devastadoras.
Mais ainda: liberou micro-organismos como o sars, o ebola, o dengue, a chikungunya e agora o coronavírus. São formas das mais primitivas de vida, quase no nível de nanopartículas, só detectáveis sob potentes microscópios eletrônicos. E podem dizimar o ser mais complexo que ela produziu e que é parte de si mesma, o ser humano, homem e mulher, pouco importa seu nível social.
Até agora o coronavírus não pôde ser destruído, apenas impedido de se propagar. Mas está aí produzindo uma desestabilização geral na sociedade, na economia, na política, na saúde, nos costumes, na escala de valores estabelecidos.
De repente, acordamos assustados e perplexos: esta porção da Terra que somos nós pode desaparecer. Em outras palavras, a própria Terra se defende contra a parte rebelada e doentia dela mesma. Pode sentir-se obrigada a fazer uma amputação como fazemos de uma perna necrosada. Só que desta vez, é toda esta porção tida por inteligente e amante, que a Terra não quer mais que lhe pertença e acabe eliminando-a.
Será assim o fim desta espécie de vida que, com sua singularidade de autoconsciência, é uma entre milhões de outras existentes, também partes da Terra. Esta continuará girando ao redor do sol, empobrecida, até que ela faça surgir outro ser que também é expressão dela, capaz de sensibilidade, de inteligência e de amor. Novamente se irá percorrer um longo caminho de moldagem da Casa Comum, com outras formas de convivência, esperamos, melhores que aquela que nós moldamos.
Seremos capazes de captar o sinal que o coronavírus nos está passando ou continuaremos 
fazendo mais do mesmo, ferindo a Terra e nos autoferindo no afã de enriquecer?

http://www.bresserpereira.org.br/documento/8024

quinta-feira, 23 de abril de 2020

1ª A integral (Professor: João Borges)


Colégio Estadual José Ribeiro Pamponet
Série: 1ª A integral                                Data: 22/04/2020
Professor: João Borges

Atividade de Humanidade, Sociedade e Cidadania

Olá turma! Esta é uma atividade apenas para leitura e reflexão.


ARTIGO:Pandemia de coronavírus é um teste de nossos sistemas, valores e humanidade
·     

Em artigo publicado na imprensa internacional, a alta-comissária da ONU para direitos humanos, Michelle Bachelet, e o alto-comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, afirmam que a doença provocada pelo novo coronavírus, a Covid-19, é um teste não apenas de nossos sistemas e mecanismos de assistência médica para responder a doenças infecciosas, mas também de nossa capacidade de trabalharmos juntos como uma comunidade de nações diante de um desafio comum.
“É um teste da cobertura dos benefícios de décadas de progresso social e econômico em relação aqueles que vivem à margem de nossas sociedades, mais distantes das alavancas do poder.” Leia o artigo completo.


Um jovem refugiado lava as mãos em Mafraq, na Jordânia, onde um sistema de aquecimento movido a energia solar, instalado com o apoio da IKEA Foundation e da Practical Action, ajuda a fornecer água quente. Foto: ACNUR/Hannah Maule-ffinch

Por Michelle Bachelet e Filippo Grandi*
Se nós precisávamos lembrar que vivemos em um mundo interconectado, o novo coronavírus tornou isso mais claro do que nunca.
Nenhum país pode resolver esse problema sozinho, e nenhuma parcela de nossa sociedade pode ser desconsiderada se quisermos efetivamente enfrentar este desafio global.
O Covid-19 é um teste não apenas de nossos sistemas e mecanismos de assistência médica para responder a doenças infecciosas, mas também de nossa capacidade de trabalharmos juntos como uma comunidade de nações diante de um desafio comum.
É um teste da cobertura dos benefícios de décadas de progresso social e econômico em relação aqueles que vivem à margem de nossas sociedades, mais distantes das alavancas do poder.
As próximas semanas e meses desafiarão o planejamento nacional de crises e os sistemas de proteção civil — e certamente irão expor deficiências em saneamento, habitação e outros fatores que moldam os resultados de saúde.
Nossa resposta a essa epidemia deve abranger e focar, de fato, naqueles a quem a sociedade negligencia ou rebaixa a um status menor. Caso contrário, ela falhará.
A saúde de todas as pessoas está ligada à saúde dos membros mais marginalizados da comunidade. Prevenir a disseminação desse vírus requer alcance a todos e garantia de acesso equitativo ao tratamento.
Isso significa superar as barreiras existentes para cuidados de saúde acessíveis e combater o tratamento diferenciado há muito tempo baseado em renda, gênero, geografia, raça e etnia, religião ou status social.
Superar paradigmas sistêmicos que ignoram os direitos e as necessidades de mulheres e meninas ou, por exemplo, limitar o acesso e a participação de grupos minoritários será crucial para a prevenção e tratamento eficazes do COVID-19.
As pessoas que vivem em instituições — idosos ou detidos — provavelmente são mais vulneráveis ​​à infecção e devem ser especificamente incluídas no planejamento e resposta à crise.
Migrantes e refugiados — independentemente de seu status formal — devem ser plenamente incluídos nos sistemas e planos nacionais de combate ao vírus. Muitas dessas mulheres, homens e crianças se encontram em locais onde os serviços de saúde estão sobrecarregados ou inacessíveis.
Eles podem estar confinados em abrigos, assentamentos, ou vivendo em favelas urbanas onde a superlotação e o saneamento com poucos recursos aumentam o risco de exposição.
O apoio internacional é urgentemente necessário para ajudar os países anfitriões a intensificar os serviços — tanto para refugiados e migrantes quanto para as comunidades locais — e incluí-los nos acordos nacionais de vigilância, prevenção e resposta. Não fazer isso colocará em risco a saúde de todos — e o risco de aumentar a hostilidade e o estigma.
Também é vital que qualquer restrição nos controles das fronteiras, restrições de viagem ou limitações à liberdade de movimento não impeça as pessoas que possam estar fugindo da guerra ou perseguição de acessar a segurança e proteção.
Além desses desafios muito imediatos, o coronavírus também testará, sem dúvida, nossos princípios, valores e humanidade compartilhada.
Espalhando-se rapidamente pelo mundo, com a incerteza em torno do número de infecções e com uma vacina ainda a muitos meses de distância, o vírus está provocando ansiedade e medos profundos em indivíduos e sociedades.
Sem dúvida, algumas pessoas sem escrúpulos procurarão tirar vantagem disso, manipulando medos genuínos e aumentando as preocupações.
Quando o medo e a incerteza surgem, os bodes expiatórios nunca estão longe. Já vimos raiva e hostilidade dirigidas a algumas pessoas de origem do leste asiático.
Se continuar assim, o desejo de culpar e excluir poderá em breve se estender a outros grupos — minorias, marginalizados ou qualquer pessoa rotulada como “estrangeira”.
As pessoas em deslocamento, incluindo refugiados, podem ser particularmente alvo. No entanto, o próprio coronavírus não discrimina; os infectados até o momento incluem turistas, empresários internacionais e até ministros nacionais, que estão localizados em dezenas de países, abrangendo todos os continentes.
O pânico e a discriminação nunca resolveram uma crise. Os líderes políticos devem assumir a liderança, conquistando confiança através de informações transparentes e oportunas, trabalhando juntos para o bem comum e capacitando as pessoas a participar na proteção da saúde.
Ceder espaço a boatos, medos e histeria não apenas prejudicará a resposta, mas poderá ter implicações mais amplas para os direitos humanos e para o funcionamento de instituições democráticas responsáveis.
Atualmente, nenhum país pode se isolar do impacto do coronavírus, tanto no sentido literal quanto econômico e social, como demonstram as bolsas de valores e as escolas fechadas.
Uma resposta internacional que garanta que os países em desenvolvimento estejam equipados para diagnosticar, tratar e prevenir esta doença será crucial para proteger a saúde de bilhões de pessoas.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) está fornecendo experiência, vigilância, sistemas, investigação de casos, rastreamento de contatos, pesquisa e desenvolvimento de vacinas. É a prova de que a solidariedade internacional e os sistemas multilaterais são mais vitais do que nunca.
A longo prazo, devemos acelerar o trabalho de construção de serviços de saúde pública equitativos e acessíveis. E a maneira como reagimos a essa crise agora, sem dúvida, moldará esses esforços nas próximas décadas.
Se nossa resposta ao coronavírus estiver fundamentada nos princípios de confiança pública, transparência, respeito e empatia pelos mais vulneráveis, não apenas defenderemos os direitos intrínsecos de todo ser humano; usaremos e criaremos as ferramentas mais eficazes para garantir que possamos superar essa crise e aprender lições para o futuro.
*Michelle Bachelet é a alta-comissária da ONU para direitos humanos. Filippo Grandi é o alto-comissário da ONU para refugiados. Este artigo foi originalmente publicado no site The Telegraph.