Colégio Estadual José
Ribeiro Pamponet
Série: 1ª A integral Data:
22/04/2020
Professor: João Borges
Atividade
de Humanidade, Sociedade e Cidadania
Olá turma! Esta é uma
atividade apenas para leitura e reflexão.
ARTIGO:Pandemia de coronavírus é um teste de nossos sistemas, valores e humanidade
·
Em artigo publicado
na imprensa internacional, a alta-comissária da ONU para direitos humanos,
Michelle Bachelet, e o alto-comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi,
afirmam que a doença provocada pelo novo coronavírus, a Covid-19, é um teste
não apenas de nossos sistemas e mecanismos de assistência médica para responder
a doenças infecciosas, mas também de nossa capacidade de trabalharmos juntos
como uma comunidade de nações diante de um desafio comum.
“É um teste da
cobertura dos benefícios de décadas de progresso social e econômico em relação
aqueles que vivem à margem de nossas sociedades, mais distantes das alavancas
do poder.” Leia o artigo completo.
Um jovem refugiado lava as mãos em Mafraq, na Jordânia, onde um sistema
de aquecimento movido a energia solar, instalado com o apoio da IKEA Foundation
e da Practical Action, ajuda a fornecer água quente. Foto: ACNUR/Hannah Maule-ffinch
Por Michelle Bachelet e Filippo Grandi*
Se nós precisávamos
lembrar que vivemos em um mundo interconectado, o novo coronavírus tornou
isso mais claro do
que nunca.
Nenhum país pode
resolver esse problema sozinho, e nenhuma parcela de nossa sociedade pode ser
desconsiderada se quisermos efetivamente enfrentar este desafio global.
O Covid-19 é um
teste não apenas de nossos sistemas e mecanismos de assistência médica para
responder a doenças infecciosas, mas também de nossa capacidade de trabalharmos
juntos como uma comunidade de nações diante de um desafio comum.
É um teste da
cobertura dos benefícios de décadas de progresso social e econômico em relação
aqueles que vivem à margem de nossas sociedades, mais distantes das alavancas
do poder.
As próximas semanas
e meses desafiarão o planejamento nacional de crises e os sistemas de proteção
civil — e certamente irão expor deficiências em saneamento, habitação e outros
fatores que moldam os resultados de saúde.
Nossa resposta a
essa epidemia deve abranger e focar, de fato, naqueles a quem a sociedade
negligencia ou rebaixa a um status menor. Caso contrário, ela falhará.
A saúde de todas as
pessoas está ligada à saúde dos membros mais marginalizados da comunidade.
Prevenir a disseminação desse vírus requer alcance a todos e garantia de acesso
equitativo ao tratamento.
Isso significa
superar as barreiras existentes para cuidados de saúde acessíveis e combater o
tratamento diferenciado há muito tempo baseado em renda, gênero, geografia,
raça e etnia, religião ou status social.
Superar paradigmas
sistêmicos que ignoram os direitos e as necessidades de mulheres e meninas ou,
por exemplo, limitar o acesso e a participação de grupos minoritários será
crucial para a prevenção e tratamento eficazes do COVID-19.
As pessoas que
vivem em instituições — idosos ou detidos — provavelmente são mais vulneráveis
à infecção e devem ser especificamente incluídas no planejamento e resposta à
crise.
Migrantes e
refugiados — independentemente de seu status formal — devem ser plenamente
incluídos nos sistemas e planos nacionais de combate ao vírus. Muitas dessas
mulheres, homens e crianças se encontram em locais onde os serviços de saúde
estão sobrecarregados ou inacessíveis.
Eles podem estar
confinados em abrigos, assentamentos, ou vivendo em favelas urbanas onde a
superlotação e o saneamento com poucos recursos aumentam o risco de exposição.
O apoio
internacional é urgentemente necessário para ajudar os países anfitriões a
intensificar os serviços — tanto para refugiados e migrantes quanto para as
comunidades locais — e incluí-los nos acordos nacionais de vigilância, prevenção
e resposta. Não fazer isso colocará em risco a saúde de todos — e o risco de
aumentar a hostilidade e o estigma.
Também é vital que
qualquer restrição nos controles das fronteiras, restrições de viagem ou
limitações à liberdade de movimento não impeça as pessoas que possam estar
fugindo da guerra ou perseguição de acessar a segurança e proteção.
Além desses
desafios muito imediatos, o coronavírus também testará, sem dúvida, nossos
princípios, valores e humanidade compartilhada.
Espalhando-se
rapidamente pelo mundo, com a incerteza em torno do número de infecções e com
uma vacina ainda a muitos meses de distância, o vírus está provocando ansiedade
e medos profundos em indivíduos e sociedades.
Sem dúvida, algumas
pessoas sem escrúpulos procurarão tirar vantagem disso, manipulando medos
genuínos e aumentando as preocupações.
Quando o medo e a
incerteza surgem, os bodes expiatórios nunca estão longe. Já vimos raiva e
hostilidade dirigidas a algumas pessoas de origem do leste asiático.
Se continuar assim,
o desejo de culpar e excluir poderá em breve se estender a outros grupos —
minorias, marginalizados ou qualquer pessoa rotulada como “estrangeira”.
As pessoas em
deslocamento, incluindo refugiados, podem ser particularmente alvo. No entanto,
o próprio coronavírus não discrimina; os infectados até o momento incluem
turistas, empresários internacionais e até ministros nacionais, que estão
localizados em dezenas de países, abrangendo todos os continentes.
O pânico e a
discriminação nunca resolveram uma crise. Os líderes políticos devem assumir a
liderança, conquistando confiança através de informações transparentes e
oportunas, trabalhando juntos para o bem comum e capacitando as pessoas a
participar na proteção da saúde.
Ceder espaço a
boatos, medos e histeria não apenas prejudicará a resposta, mas poderá ter
implicações mais amplas para os direitos humanos e para o funcionamento de
instituições democráticas responsáveis.
Atualmente, nenhum
país pode se isolar do impacto do coronavírus, tanto no sentido literal quanto
econômico e social, como demonstram as bolsas de valores e as escolas fechadas.
Uma resposta
internacional que garanta que os países em desenvolvimento estejam equipados
para diagnosticar, tratar e prevenir esta doença será crucial para proteger a
saúde de bilhões de pessoas.
A Organização
Mundial da Saúde (OMS) está fornecendo experiência, vigilância, sistemas,
investigação de casos, rastreamento de contatos, pesquisa e desenvolvimento de
vacinas. É a prova de que a solidariedade internacional e os sistemas
multilaterais são mais vitais do que nunca.
A longo prazo,
devemos acelerar o trabalho de construção de serviços de saúde pública
equitativos e acessíveis. E a maneira como reagimos a essa crise agora, sem
dúvida, moldará esses esforços nas próximas décadas.
Se nossa resposta
ao coronavírus estiver fundamentada nos princípios de confiança pública,
transparência, respeito e empatia pelos mais vulneráveis, não apenas
defenderemos os direitos intrínsecos de todo ser humano; usaremos e criaremos
as ferramentas mais eficazes para garantir que possamos superar essa crise e
aprender lições para o futuro.
*Michelle Bachelet
é a alta-comissária da ONU para direitos humanos. Filippo Grandi é o
alto-comissário da ONU para refugiados. Este artigo foi originalmente publicado
no site The Telegraph.